Dados e documentação sobre o ramal

Criada em 1968, esta ligação ferroviária foi criada para auxiliar o tráfego da EF Leopoldina, que antes se utilizava da linha da Serra da Estrela (até 1964) para alcançar o interior e o estado de Minas Gerais. Esta linha foi utilizada até 1988, sendo posteriormente abandonada e depredada, tendo os trilhos arrancados e o leito desfigurado.
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Dados e documentação sobre o ramal

Mensagem por DadoDJ » 04 Fev 2014, 09:55

Neste tópico vamos postar imagens, textos, matérias, notícias, documentações e relatos em geral sobre a ligação São Bento/Campos Elíseos - Ambaí.

Começo com um interessante relato que me foi passado por Alberto Ellobo, via Facebook:

Em 1987, após o início das obras de eletrificação do trecho Gramacho-Campos Elíseos, um nó que fazia a conexão entre a E. F. Leopoldina e o ramal Ambai, no bairro São Bento (ou, região da Ponte Preta), foi levemente modificado para permitir a passagem do leito dos novos trilhos de 1,60m, num projeto iniciado ainda na virada dos anos 50 para 60.

O Ramal São Bento/Ambaí foi projetado para ser uma espécie de "by-pass" que permitisse o tráfego de trens da bitola métrica entre as malhas da Cia Melhoramentos do Brasil e os trechos Norte da Estrada de Ferro Leopoldina, e teve significativa importância entre 1940-50. Mas, o auge do trecho veio após a inauguração da Reduc. Nessa época, o Ramal Ambaí ganhou uma linha de bitola larga (1,60m) que conectava a Reduc à malha da Linha do Centro, seguindo paralela à linha-bitola-estreita até o bairro Engenheiro Pedreira, onde se dava a conexão com o tronco da E.F. Central do Brasil (linha do Centro).

Mas, a inauguração de um posto avançado para armazenamento e distribuição de combustível e produtos refinados no atual município de município de Japeri (à época, distrito de Nova Iguaçu), por volta de 1980, e a consequente instalação de um oleoduto ligando a Reduc à Japeri (cruzando trechos do que seria nomeado futuramente como Reserva Biológica do Tinguá), substituiu o transporte ferroviário de combustível através de comboios-tanque, e a linha bitola larga perdeu sua importância.

Assim, no ano de 1987, oi Ramal de Ambaí já não tinha mais a mesma importância de outrora, apesar de ainda sobreviver - ou melhor, agonizar, com a passagem cada vez mais escassas de trens de carga com vagões do tipo "comboio-containers", que trafegavam semanalmente entre a Zona Portuária do Rio e a Região Serrana e Sul Fluminense. Mesmo assim, o ramal ainda era um eixo importante para o escoamento da produção daquela região e também a única forma que restara de conexão entre a malha ferroviária mineira de bitola métrica com a capital carioca (após a desativação da ligação Arará-Ambai, via Linha Auxiliar, nos anos 70), pois, o ramal continuava a servir de conexão entre a Leopoldina e a Melhoramentos.

Porém, ainda naquele ano, um fatídico acidente foi a desculpa ideal encontrada pela extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA) para encerrar as atividades de operação do trecho. Um trem de carga que trafegava em direção à Barão de Mauá colheu um coletivo da Viação Trel, deixando mortos e um grande número de feridos. À época, apuração constatou que uma das sinaleiras não funcionou com a intensidade suficiente para ser ouvida pelo motorista do coletivo. Um ano antes, já se questionava a existência daquele ramal que cortava bairros atualmente com enorme densidade demográfica e alto índice de favelização (atropelamentos, inclusive de crianças, passaram a ser constantes, assim como descarrilhamentos provocados por objetos descartados no leito dos trilhos, como pedras, entulho, cama, sofãs...). Então, o ramal São Bento/Ambaí, que se tornara deficitário com a inauguração do oleoduto começou a ser desativado definitivamente.

Mas, também é também desse ano de 1987 uma das mais lindas imagens envolvendo questões ferroviárias que trago em minha memória. Lembro-me bem, eu tinha por volta de 10 anos e estava brincando com outros guris da minha idade às margens de um lago que havia se formado entre o V formado pelas duas alças de conexão das linhas do ramal Ambaí com a EF Leopoldina quando redarei-me com um comboio enorme, composto por umas 4 ou 5 locomotivas GE U20c e mais de uma centena de vagões (eu contei 153, porém, perdi a conta várias vezes - pelo menos + 1/3 dessa quantidade passou sem ser contado). O enorme cargueiro trafegava a uma velocidade razoavelmente boa, o que deixava claro que os vagões estavam vazios. Quando o último vagão passou pela agulha da conexão Leopoldina/Ambai, as locomotivas já iniciavam a curva para acesso ao pátio de Gramacho.

Foi a última vez que passar trem no ramal Ambai. Depois disso, alguns poucos autos-de-via se locomoveram por lá, unas 3 ou 4 vezes, até a completa extinção do trecho. Aquele comboio certamente era o recolhimento do material rodante operante disponível para o trecho. Alguns foram abandonados em triagem, outros no bairro Santo Cristo. Os do tipo containers ainda serviram por mais 10 anos ao ramal Campos-Cais do Porto, até que este trecho também foi abandonado, já sob concessão da FCA.

Enfim. E, assim, eu assisti a morte de um ramal ferroviário brasileiro. Como tantos outros que foram abandonados, invadidos, edificados por casas, ruas, favelas, condomínios, Ambai é hoje, apenas lembranças. Pelo menos, dessa forma, a história ferroviária brasileira ainda sobrevive.
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Re: Dados e documentação sobre o ramal

Mensagem por tche » 24 Fev 2014, 10:30

Como sempre a falta de manutenção, a alegação de que expunha a segurança das pessoas, e a desnecessária utilização do ramal, foram a desculpa utilizada pera erradica-lo...Mas não mencionam que o lobby das empresas de ônibus foi o fator principal, sem contar a cobiça de políticos da região pelos imóveis abandonados e posteriormente invadidos usados como moeda eleitoreira... Positivamente "desisti" deste país, onde os interesses menores e inconfessáveis estão sempre acima do bem comum, fatores ainda aliados à péssima formação cultural do povo, que se prostitui por muito pouco em troca do voto....Um abraço para todos...

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Re: Dados e documentação sobre o ramal

Mensagem por tche » 20 Jan 2015, 10:32

Olá pessoal, aqui vai uma reportagem publicada em Junho de 1968 e fala sobre o fim dos congestionamentos em Triagem devido à inauguração do ramal. Ressalte-se ainda que o ramal JÁ estava operando, o que significa que a data da desativação final da Rio D´Ouro coincide mesmo com o que já tenha sido postado, ou seja em Dezembro de 1967...
Você não está autorizado a ver ou baixar esse anexo.

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Re: Dados e documentação sobre o ramal

Mensagem por DadoDJ » 20 Jan 2015, 13:08

Muito bom !!!
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Re: Dados e documentação sobre o ramal

Mensagem por Luiz Eduardo » 24 Jan 2015, 14:19

Eu pesquisei muito, mas muito sobre esse ramal e tenho pra mim que a pá de cal foi jogada de vez em 1994 e não em 1987. Explico: o último trem de bitola métrica que tenho notícia, desceu a Linha Auxiliar em 94 e sua única ligação com o porto do Rio era passando por São Bento x Ambaí. Acho que até já foi debatido isso, mas vou deixar para mais comentários aparecem e ver se realmente essas datas batem.
Abraços

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Re: Dados e documentação sobre o ramal

Mensagem por DadoDJ » 25 Jan 2015, 18:53

Hum ... isso é um caso a se pensar mesmo ... me lembro que em 1996 já não havia trilhos no trecho (quer dizer, trilhos tinha, mas jogados nas margens do leito).
Este trem em 1994 desceu até o Porto ?
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Re: Dados e documentação sobre o ramal

Mensagem por tche » 25 Jan 2015, 19:34

Eu já havia postado aqui que tinha visto em Dez. de 94 um trem cruzando a Pres. Kennedy em São Bento...

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Re: Dados e documentação sobre o ramal

Mensagem por DadoDJ » 26 Jan 2015, 08:21

Exatamente, Tche ! É verdade ... me esqueci desse detalhe !
:D
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